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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Mastectomia de Angelina Jolie: o que você precisa saber sobre o assunto


15/05/2013 08h15 - ATUALIZADA EM: 15/05/2013 19h57 - por Graziela Salomão, colaborou Larissa Saram

Depois de admitir publicamente que fez uma mastectomia dupla preventiva para reduzir o risco de câncer de mama, atriz americana se torna exemplo para muitas mulheres que sofrem ou tem alta incidência de desenvolver a doença. Experts explicam tudo sobre o caso

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O PROCEDIMENTO DIMINUI DRASTICAMENTE O RISCO DA MULHER TER CÂNCER DE MAMA (Foto: Getty Images)

ANGELINA JOLIE AO LADO DA MÃE, MARCHELINE BERTRAND, QUE MORREU DE CÂNCER DE MAMA, EM 2007, AOS 56 ANOS  (Foto: Getty Images)

Há idades indicadas para a retirada das mamas e do ovário?
A retirada das mamas entre 25 e 30 anos é o que mais impacta nos resultados, ou seja, é a fase que diminui radicalmente as chances de desenvolver o câncer. Os ovários devem ser retirados a partir dos 40 para não comprometer outros sistemas e causar osteoporose, doenças cardíacas e aumento do colesterol, por exemplo.

VERA LUCIA FEZ A CIRURGIA HÁ SETE ANOS. NA FOTO, UMA SEMANA APÓS O PROCEDIMENTO, ELA JÁ ESTAVA EM UMA FESTA DE CASAMENTO (Foto: Arquivo Pessoal)
Angelina Jolie chocou o mundo ao revelar que decidiu fazer uma mastectomia dupla preventiva com a intenção de evitar a doençaEm um texto escrito por ela e publicado no jornal The New York Times, a atriz de 37 anos suscitou a discussão da doença e fez mulheres em todo o mundo refletirem sobre o assunto.
 Em seu artigo, Angelina conta que o interesse em medir os riscos de câncer veio depois da morte da mãe causada pela doença, aos 56 anos. Através de exames genéticos, Angelina descobriu que carregava um gene “defeituoso”, o BRCA1. Esse gene aumenta em níveis preocupantes o risco de desenvolver o câncer de mama e o de ovário. No caso de Angelina, as chances eram de 87% para as mamas e 50% para o ovário.
 A decisão de se submeter ao procedimento foi pensada por causa da família, afirmou ela. “Posso dizer a meus filhos que eles não precisam ter medo de me perder para o câncer de mama", disse a atriz no artigo. Marie Claire consultou especialistas para entender o procedimento, para quem ele é indicado e a importância do teste genético, que custa cerca de 6 mil reais e ainda não é coberto pelo Sistema Único de Saúde brasileiro. Em quais casos a dupla mastectomia preventiva é indicada?
O procedimento é indicado quando existe um altíssimo risco de câncer de mama, qualquer que seja o tipo.
Como funciona a técnica nipple delay realizada em Angelina Jolie?
O nipple delay é uma técnica usada para diminuir a possibilidade de existir qualquer necrose no mamilo. O objetivo é preservar totalmente a parte externa da mama para fins estéticos. Segundo Marcelo Sampaio, cirurgião plástico do Hospital Sírio Libanês, no Brasil essa técnica não é comumente realizada. Tanto a retirada da glândula mamária, como a sua reconstrução, acontecem em uma mesma cirurgia. No caso de Angelina, a opção do médico foi por fazer o procedimento em três etapas, que demoraram quase três meses até serem totalmente completadas.
Existem diferentes tipos de mastectomia?
Antigamente era realizada a mastectomia total, na qual acontecia a retirada das glândulas mamárias, auréola e mamilos. De acordo com Afonso Celso Pinto Nazário, professor da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, atualmente é realizada a mastectomia subcutânea, chamada de adenectomia ou adenomastectomia. “Nesse procedimento, tira-se boa parte da glândula mamária, mas preserva-se a pele, a auréola e o mamilo. Isso possibilita uma reconstrução mais bem-sucedida”, afirma o especialista.
Como funciona o exame genético que fez com que Angelina Jolie descobrisse sua alta probabilidade de ter câncer de mama?
É feito, geralmente, a partir da coleta de sangue ou de saliva. O material é encaminhado para o laboratório que vai analisar o DNA das células e compara-se com o padrão. Se existir algum tipo de mutação, ele será analisado. “Este exame é indicado especialmente para mulheres com histórico na família ou que desenvolveram câncer de mama ou ovário ainda muito jovens”, afirma Bernardo Garicochea, coordenador do setor de aconselhamento genético do Hospital Sírio Libanês. O exame custa cerca de 6 mil reais e, de acordo com uma medida provisória aprovada em novembro do ano passado no Congresso Nacional, os planos de saúde devem cobrir em casos indicados para quem tem um histórico familiar.
Os casos em que o gene BRCA1 aparece são comuns?
Não, são raros e hereditários. De cada 100 mulheres com câncer de mama, apenas cinco podem ter o BRCA1 OU BRCA2.
Qual é a diferença dele a um câncer de mama em que esse gene não seja detectado?
Um câncer, na verdade, é nosso próprio gene que sofreu mutação. No tipo mais comum, a paciente já possui esse gene relacionado ao câncer de mama. No caso do BRCA1, ele é um supressor de tumor e, quando sofre mutação, deixa de se defender do câncer e o tumor se manifesta. “Ele também é mais agressivo, se manifesta em mulheres mais jovens e é frequentemente bilateral”, afirma Afonso. O diagnóstico também é mais complicado, pois é difícil detectá-lo na mamografia.
Se pensar em uma mastectomia é uma decisão muito assustadora, quais são as outras opções para as mulheres que tenham um alto risco de desenvolver um câncer de mama?
A retirada das mamas é o tratamento mais indicado no caso do BRCA1, mas a mulher que tiver casos desse câncer na família, mas não tiver a coragem da Angelina, deve ter um acompanhamento permanente do médico, com exames clínicos (apalpação) e um revezamento de mamografia e ressonância magnética a cada seis meses, para que ela fique coberta durante 12 meses. Isso porque o desenvolvimento do tumor é muito rápido e em menos de um ano ele pode surgir.
“Se você tem a possibilidade de não passar por um câncer de mama, vale a pena fazer a cirurgia”
A professora aposentada Vera Lucia Chittero de Oliveira, de 57 anos, passou por sucessivas cirurgias para retirada de nódulos do seio até que, em 2005, depois de ver sua irmã passando por um tratamento contra um câncer de mama, decidiu fazer a mastectomia aconselhada por seu médico"
O primeiro módulo surgiu com 21 anos, em 1979, na mama esquerda. Tive que retirá-lo e, a partir daí, isso se tornou constante em minha vida. O segundo apareceu um ano depois, na mama esquerda. Em 1982, fiz a cirurgia nos dois seios. Depois que tive meu primeiro filho, em 1987, melhorou um pouco. Depois disso, operei mais duas vezes: em 1994 e 1998.
 Foi no ano de 2001 que outro nódulo surgiu novamente. Depois de tantas operações, meu ginecologista começou a sugerir que uma cirurgia para a retirada das mamas poderia ser indicada para evitar um possível câncer de mama. Na época, conversei com meu marido e decidimos, em conjunto, que não. Quando minha irmã descobriu um câncer de mama muito agressivo, que deu até metástase, em 2003, comecei a repensar a decisão.
No entanto, foi somente em 2005, quando um novo nódulo apareceu novamente, que tive coragem de fazer a cirurgia. No começo, o principal medo é estético. O pensamento de “como vai ficar?” fica na cabeça a todo momento. Mas, a situação era muito preocupante. Minha irmã já tinha sofrido de câncer e eu não queria passar por aquilo. Já estava cansada de tantas cirurgias por conta do nódulo. Junto com meu médico e com meu marido, decidi fazer a mastectomia. A pele, a auréola e o mamilo foram preservados.
O resultado final ficou ótimo. Continuei me sentindo muito mulher, muito feminina. Não quis passar pelo processo que minha irmã passou. Ela ficou curada, mas o preço foi alto demais. Se você tem a possibilidade de não passar por isso, vale a pena. O importante é ter uma qualidade de vida melhor e encarar a vida de uma maneira forte. Depois de três meses eu já estava na quadra, jogando meu voleibol. Já faz sete anos que passei pela cirurgia e estou muito bem e feliz. Isso é o que vale”.

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